Saúde

Homem é dado como morto e fica sem medicamentos na rede pública de Pelotas

Receitas de remédios de uso contínuo foram negadas a irmã do paciente; após falha se tornar pública, Prefeitura corrige atendimento

Foto: Volmer Perez - DP - Situação deixa família aflita

Por Victoria Fonseca
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(Estagiária sob supervisão de Vinicius Peraça)

Mulher teme pelo estado de saúde de seu irmão após ter pedido de retirada de receitas médicas negado. O caso aconteceu na Unidade Básica de Saúde (UBS) da Cohab Fragata, onde há três anos o homem, diagnosticado com esquizofrenia e epilepsia, é atendido. Anteriormente as consultas eram realizadas no Centro de Atenção Psicossocial (Caps), no entanto o paciente foi transferido para o posto devido ao prontuário constar, sem nenhum motivo aparente, o seu falecimento.

A manicure, Leida San Martin, 55 anos, mora ao lado da casa da mãe e auxilia nos cuidados do irmão, José Fernando Elesbão, 58 anos, que realiza tratamentos para condições psiquiátricas desde os nove anos de idade e necessita de ajuda para realização de tarefas simples como tomar banho. Durante toda a vida o aposentado necessitou de medicação de uso contínuo e diversas vezes precisou ser internado devido a crises de esquizofrenia. Agora, com as cartelas quase vazias, Leida teme as consequências da falta dos remédios. "Ele não pode ficar sem a medicação, está aqui a cartela que já está no fim e eu não sei o que faço. Ele precisa tomar os remédios todos os dias se não ele fica desorientado e começam os ataques", explica.

Apesar de receber o benefício da Previdência Social devido às suas condições de saúde, Leida explica que o valor de um salário mínimo não é suficiente para cobrir todos os gastos dele. "A mãe fez um empréstimo para a compra de uma cadeira de banho para ele, aí então agora está recebendo um pouco menos".

Ao longo de mais de uma década, Elesbão consultava e a família tinha acesso às receitas médicas emitidas pelo Caps Fragata para a retirada dos medicamentos em Unidades Básicas de Saúde. Porém, há cerca de três anos, o Centro de Atenção informou que no prontuário do paciente constava que ele havia falecido e por este motivo não haveria nada mais que poderia ser feito. "Eu fui lá no Caps e no prontuário dele estava como se ele tivesse morrido e tiraram a ficha dele de lá. Não sei da onde que eles tiraram isso", conta Leida. Ainda de acordo com ela, no local apenas lhe orientaram a procurar atendimento na UBS, o que foi feito por ela no posto da Cohab Fragata.

Desde então, as consultas e a retirada de prescrições médicas, não só de Elesbão, mas também da própria Leida e sua mãe, passaram a ser efetuadas na UBS Cohab Fragata. Até a última terça-feira (20), o atendimento sempre foi prestado pelo posto, inclusive, após o homem sofrer dois AVCs (Acidente Vascular Cerebral), dificultando a sua locomoção, a equipe de saúde passou a realizar as consultas em domicílio. Em razão disso, a manicure explica que a médica que realizava o atendimento já conhecia o caso do paciente e emitia mensalmente as receitas dos medicamentos.

No entanto, a profissional está de licença e o médico que estava atendendo na UBS negou a Leida a retirada das prescrições para o seu irmão, para ela e sua mãe, ambas utilizam remédios para controle de pressão. "Eu e a mãe também pegamos receitas. Mas esses eu até posso comprar enquanto não conseguir, mas os dele tem que ter as receitas. Aí me falaram que eu tenho que esperar até o dia 24 de janeiro", explica.

Recentemente a manicure passou por uma cirurgia para a retirada de um coágulo na cabeça e aproveitou a ida ao Posto para solicitar a realização de um exame pós-operatório, o que foi marcado para a data citada por ela. Quando chegou a sua vez na fila do atendimento, Leida argumentou que precisaria, para agora, somente das receitas do irmão, no entanto na UBS alegaram que só seriam entregues no dia da consulta dela. E nenhum novo atendimento médico para emissão das prescrições de José Elesbão foi solicitado pelos profissionais.

Providência?
Questionada pelo Diário Popular sobre os ocorridos na UBS Cohab Fragata e no Caps na terça-feira (20), a Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Pelotas (Ascom) alegou que por se tratar de questões que envolviam diferentes setores da saúde, os esclarecimentos não seriam prestados no mesmo dia. Após três anos sem prestar atendimento ao aposentado, somente ao saber da matéria uma equipe do Caps foi enviada à residência de José Fernando Elesbão na manhã de ontem para realização de uma nova consulta e prescrição de receitas.

Ainda no momento em que a reportagem estava na casa de Leida, na tarde de ontem, duas agentes de saúde chegaram ao local para visitar Elesbão. As profissionais contaram que não atuavam naquela localidade, mas que, no entanto, o deslocamento e a verificação foram solicitados pela UBS Cohab Fragata. Após alguns questionamentos sobre o paciente, as agentes disseram que as consultas domiciliares voltariam a ser feitas pelo Posto, mas sem nenhuma previsão de quando iniciaram.

O que diz a prefeitura
A visita das agentes da UBS foi solicitada pela secretária de saúde, Roberta Paganini. Ao ser questionada sobre a negativa das receitas a Leida, a titular da pasta diz ainda que a unidade básica agendou uma consulta para atualizar a situação clínica para a renovação das receitas.

Conforme Roberta, a unidade está com a presença de um médico somente duas vezes por semana, o que tem ocasionado um acúmulo das atividades. A partir de janeiro há a previsão de entrada em serviço de outros profissionais médicos e a unidade Cohab Fragata contará com a presença de médico em tempo integral.

Sobre o prontuário de Elesbão constar que o paciente era falecido, a gestora alega que houve um erro no sistema do Caps a partir de uma informação errada repassada por um familiar do paciente. Leida argumenta que nenhum membro da sua família falou algo neste sentido. "Eu não ia inventar uma coisa dessas. A minha irmã também perguntou sobre isso e falaram a mesma coisa". O segundo irmão da manicure, Rogério Elesbão, foi ao Caps tentar resolver o impasse, mas recebeu a mesma resposta. "Eu fui lá [Caps] e me disseram isso [que o irmão constava como falecido]. Por que alguém da família ia falar isso?", questiona.​

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